Carles:
Quero falar do Kaká, do seu ressurgimento, sem falar do Mourinho. Somos
capazes?
Edu:
Acho difícil.
Carles:
Vamos tentar falar de futebol só, portanto, sem Mourinho,
Edu:
Primeiro, ainda tenho muitas dúvidas sobre esse ressurgimento. Uma partida
razoável na semana passada contra o Rayo, depois um gol marcado contra o Depor,
que está no bico corvo. Será que é suficiente para falarmos em ressurgimento?
Carles:
Por enquanto, apareceu a pontinha do iceberg e são dois jogos bons em
sequência.
Edu:
Kaká continua sendo um cara muito querido por aqui. Temos a tendência de ser
condescendentes com ele, porque é boa pessoa, tem caráter e todo mundo
acompanhou o sofrimento por que ele passou. Existe uma pressão tácita para que
ele volte com tudo à Seleção e lidere o time de garotos, Neymar, Oscar. Estamos
exagerando?
Carles:
Exagero é querer que ele seja líder, se esperam isso dele por aí, esqueçam.
Outra coisa é que ele seja um norte para o jogo, uma referência. E um grande
reforço técnico.
Edu:
Acho que ele pode ser um líder técnico, sim. Como aliás já foi na Seleção e até
no Milan. Todo mundo sabe que ele não tem personalidade de líder, mas pode ser
o condutor técnico tranquilamente. Só que as dúvidas ainda são muitas sobre até
onde ele pode chegar. Talvez esses jogos contra Barça e Manchester sejam uma
espécie de exame final, a hora da virada.
Carles:
Sou dos que mais questionam o Kaká, principalmente pela sua personalidade, mas
algo me diz que esses jogos vão ser mesmo decisivos para o resto da carreira
dele, principalmente contra o Barça. Se ele conseguir ser importante nesse jogo
de hoje e também no fim de semana, e dependendo das condições físicas dele,
pode dar um giro positivo na carreira. O jogo contra o Manchester
provavelmente, se o Madrid fracassar, vai afetar menos cada uma das figuras do
time ou do clube. E se houver um duplo fracasso nem sei se haverá mais clube.
Edu:
Isso se o cara - aquele que prometemos não citar o nome - colocar ele para
jogar.
Carles:
Vai por, quer apostar?
Edu:
Não quero não.
Carles: “Esse
cara” perdeu ou entregou o comando, definitivamente. É visível... Bom, pensando
bem, você pode ter perdido a chance de ganhar uma grana, no Madrid tudo é
possível.
Edu:
Também tenho muitas restrições sobre o jeitão do Kaká. Bom menino demais,
bonzinho demais, religioso demais. Mas uma coisa é preciso ser dita sobre o
episódio com o português: ele foi um exemplo de comportamento digno. O Portuga
fazendo de tudo para humilhar o cara, repetindo várias vezes que não contava
com ele, excluindo até do banco, e o Kaká ali firme, sem abalos, sem nenhuma
queixa. E o luso apertando o torniquete, inconformado que o cara não reagia
como qualquer boleiro reagiria. Se depois de tudo isso o cara ainda conseguir
jogar, merece ainda mais respeito.
Carles:
Olha, o português costuma partir para a abordagem ao poder lá por onde ele
passa. Desafia e põe à prova a autoridade dos dirigentes para tentar impor as
suas regras. Com o Florentino foi principalmente com o Kaká, para mostrar quem
é que manda, já que o brasileiro foi contratação da presidência. Só que sobrou
para o pobre Izecson.
Edu: E se tudo se confirmar e o Português cair
fora, a turminha desprezada por ele ganha força, com Iker e Sérgio Ramos
puxando a fila.
Carles:
Iker e Ramos estão só à espreita. Em compensação, Pepe e Coentrão, por exemplo,
terão os dias contados no clube “blanco”.
Edu:
Como diria meu sogro, 'ni falta que hace'.
Carles:
Sábias palavras.
Edu: E
no caso do Coentrão, o Madrid deixará de jogar pela janela seis milhões de
euros ao ano. Com todas as reservas e a insistência nessa pose estigmatizada
pelo ‘bom mocismo’, ainda torcemos muito pela Kaká por aqui. Seria legal ver o
jogo dele hoje no Camp Nou, na semifinal da Copa. Mas ainda acho que o Luso vai
de Di Maria.
Carles:
Ele anda às turras com ‘el fideo’, hein? Outro dia quase entra em campo para
puxar a orelha do argentino. A minha conclusão é que ele não escala, exclui.
Edu:
A menos que o Coronel Mendes dê um telefonema estratégico. Aí então, pelo bem
da firma...
Carles: Ah, tem essa.
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