sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Mourinho, de aviso prévio

Edu: 'Fútbol con mayusculas' foi o título do El País hoje sobre o jogo Madrid-Manchester. Os jornais esportivos, então, nem se fale. Parece que a partida foi a quintessência do mundo animal. O pessoal que narrou aqui no Brasil também estava um tanto deslumbrado, talvez mais pelo Bernabéu lotado do que outra coisa. Mas também disseram ter visto um partidaço. Pergunto: Será que vi outro jogo?
Carles: Olha acho que sobre isso não vamos discutir, nossa conversa vai ser pacífica. Vimos o mesmo jogo. Ferguson foi de "trivote" (três volantes)  e Mourinho não tem plano B.
Edu: É um pouco assustador constatar que quem analisa, que precisa ter uma visão mais ampla e crítica, não resiste a se envolver no clima do jogo e perde o bom senso. É Madrid-Manchester? Então ‘tem’ que ser jogaço. Alfredo Relaño, excelente jornalista e escritor, mesmo sendo colunista do nem sempre isento Diário Ás, foi o único lúcido ao dizer que o time do Mourinho só sabe 'roubar e correr'. O que equivale dizer que você acertou? Não tem plano B. E o Manchester do mestre do Mourinho, o bem-humorado Ferguson – aquele que sempre que ganha é o melhor e sempre que perde o juiz não presta -, deu uma demonstração de como transformar o líder da Premier em um Southampton qualquer. Ver o Rooney perseguindo o Cristiano na lateral, o tempo todo, foi patético.
Carles: A sombra de temporadas anteriores do Manchester, acusado de ter sido pouco competitivo, assombra o ‘bem-humorado’. É uma das decisão do veterano treinador jogar de uma forma fora de casa e de outra em Old Trafford… coisa de time pequeno, diga-se de passagem.
Edu: Competitivo ele seria se tentasse ganhar o jogo. E nem estava tão difícil. Todas as vezes que o time apertou algo aconteceu. Mas o Manchester ficou entrincheirado, com aquele bando de leões de chácara (Evans, Carrick, Jones). E do outro lado o time que me lembrou a velha Fúria espanhola - muito vigor, chutando a gol de qualquer jeito para ganhar nas estatísticas. Pobre Özil.
Carles: Em favor do futebol espanhol eu diria que o Madrid é um time mais bem português…
Edu: Bom…
Carles: O fato é que Sir Ferguson tinha um plano que deu o resultado esperado no jogo de ontem, talvez prevendo um Madrid mais agressivo dentro do seu próprio feudo. Em todo caso, tática equivocada ou não, não deixa de ser uma estratégia, algo do que carece Mourinho. Ele está mais atento às brigas internas, claramente afetado e já jogou a toalha, o que ele conseguir graças ao peso da camisa merengue é lucro. Está com as malas prontas.
Edu: Parece que é isso mesmo, uma postura meio de terra arrasada, de quem já está no aviso prévio…
Carles: Aviso prévio! ótima definição para a atual situação.
Edu: Parece que é isso mesmo, uma postura meio de terra arrasada, de quem já está no aviso prévio. Mas o pior para o futebol espanhol é que, a julgar pelos analistas, e não só os de Madrid, o 'efeito Barça' ainda não colou no resto do país. Ainda bem que existe a Seleção do Marquês dos Nabos para espantar o fantasma da velha Fúria. Aquele Real Madrid de ontem foi chamado de 'intenso, trepidante e passional'.
Carles: Hummmm, se formos por esse caminho, terei que insistir no conceito das duas espanhas, na política, na economia e no futebol.
Edu: Disso nunca discordamos: elas - as duas espanhas - existem. Só precisam aprender a conviver com as diferenças.
Carles: Uma resistente, aferrada ao conservadorismo, à família e à igreja e a outra, mais revolucionária, inspirada nas artes e em busca da inovação.
Edu: Esse 'conservadorismo de resultados' já não é o mesmo, essa é a verdade. E quem mudou esse paradigma está aí pertinho. O Barça é a versão moderna daqueles times do Brasil e da Argentina que uniam bons resultados com jogar bem. Pelo bem da Espanha (de Madrid e de todo mundo), é preciso esquecer o Mourinho, borrar essa passagem da história.
Carles: Mas cada vez mais eu acredito que não só a torcida merengue se ilude. O próprio Florentino está enganando a si mesmo. Já deveria ter rifado o senhor José Mourinho, pelo bem do clube. Em outras situações similares, a mão dele não tremeu tanto na hora de assinar uma carta de demissão. Acho que é medo de reconhecer o próprio erro.
Edu: Quando o português sair, e falta pouco, já veremos... Não vai faltar um Sérgio Ramos pra contar tudo.
Carles: Seria mais fácil ele contar agora, "en caliente". Depois ele corre o risco de alguém convencê-lo de que só vai prejudicar a instituição, coisa e tal. Na verdade, minha intuição diz que ele esteve várias vezes para contar, inclusive deu pistas muito claras. E não só Ramos. Não é por ser desconfiado, mas eu diria até que a contusão do Casillas é conveniente demais...

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