sábado, 2 de março de 2013

Arbitragens fellinianas


Edu: Que opinião têm os espanhóis sobre a arbitragem espanhola?
Carles: Que é muito ruim.
Edu: Tenho a impressão de que todo mundo acha a arbitragem do próprio país muito ruim. Ocorre por aqui também. Mas o curioso é que, nas análises dos brasileiros, só tem um país onde a arbitragem é considerada pior que a do Brasil: a Espanha.
Carles: Provavelmente é a pior entre as grandes ligas, sim. E quando surge um bom árbitro, acaba engolido pela máquina da federação, coordenação da comissão de arbitragem e um longo etc.
Edu: Mas o que a máquina faz com os árbitros? Pressão? Coação? Muita politicalha dos times grandes?
Carles: A última foi que Paradas Romero, membro do quadro da Primeira Divisão decidisse abandonar a arbitragem depois de um suposto acosso por parte de Manuel Dias Vega, ex-árbitro e todo poderoso da arbitragem espanhola. O motivo teria sido que, durante um jogo Madrid-Barça, Romero deixou se intimidar publicamente por Mourinho e não o expulsou. O curioso é que sempre que um árbitro é indicado para ser internacional começa a cometer ‘deslizes’.
Edu: Então, se as coisas acontecem assim, no varejo, é pior do que a gente imaginava: a Espanha pode ser um cemitério de árbitros. A impressão que temos aqui é que o grande domínio dos dois times ricos é terreno fértil para árbitros um tanto submissos, covardes mesmo, caseiros e disciplinarmente fracos. Chega-se ao ponto de ficar difícil avaliar o cara tecnicamente.
Carles: É, acho que hoje não vai ter discussão. Também é minha impressão. Eu observo isso faz tempo. Alguns chegam à Primeira Divisão e, no começo, demonstram ser bons tecnicamente. O exemplo mais recente é o do valenciano Mateu Lahoz, um árbitro moderno, muito bom tecnicamente. Foi começar a aparecer, apitar jogos estratégicos para os dois grandes e sofrer uma ‘estranha transformação’.
Edu: Mas é bom ter bem claro que muitos dos vizinhos europeus, poderosos no futebol, também sofrem com arbitragem e talvez aí estejamos exagerando um pouco com os espanhóis. A Inglaterra, por exemplo, cujos árbitros são muito elogiados pela imprensa serviçal colonizada daqui, também tem juízes de péssima qualidade e um estilo de arbitragem que só vale por deixar o jogo correr. No resto - disciplina, precisão técnica, segurança e bom senso -, podem todos ir para a vala comum. E a Espanha talvez apareça mais porque tem muito mais choro de perdedor, seja de times grandes ou pequenos. Sem falar no maior de todos os chorões, o português.
Carles: Nem acho que o maior problema seja (só) o choro dos clubes, das comissões técnicas e frequentemente dos seus capitães, mas o coro da imprensa que, neste caso, evidencia uma questão que em outros aspectos é bom, mas que no esporte de competição é nefasto: a grande divisão do território nacional e do pensamento em autonomias. Você sabe muito bem que são blocos fortes de pressão, desde cada região e a favor do time local.
Edu: De qualquer jeito, como estamos falando de um ser - o árbitro - que tem plenos poderes em campo, que de certa forma exerce o controle total de um jogo de futebol, é uma situação preocupante. Porque, desse jeito, nunca vai prevalecer a competência técnica. E o árbitro - que teria que brilhar pela ausência - será sempre protagonista. Visto desse ponto de vista, não estamos tão mal assim neste lado do mundo.
Carles: Por aqui, a coisa se agravou nesta temporada. Existe uma clara orientação da comissão de arbitragem para que os seus membros ajam com mais rigor e austeridade. Houve uma quantidade grande de expulsões banais e as consequências foram justamente o contrário do esperado. Os jogadores, impotentes, começaram a reagir violentamente. Qualquer relação com a atual situação política e social do país não é mera coincidência.
Edu: No fim, há sempre os dois mesmos responsáveis: a crise e o Mourinho.
Carles: Não, a arbitragem por aqui sempre foi ruim, mesmo antes desses dois estigmas. Não sei como anda a arbitragem no Brasil, mas pelo visto melhorou bastante, porque ultimamente se ouve menos falar dela.
Edu: Engano, não melhorou nada. Há alguns dias também houve uma mexida na cúpula da arbitragem por causa de uma série de denúncias de arranjo de resultados. Nada ficou provado ainda, nem as acusações foram muito claras, mas serviu para todo ficar atento. Desse jeito, vamos acabar concluindo que a Espanha tem mesmo a pior arbitragem do Primeiro Mundo do futebol.
Carles: Eu acho deplorável. Abaixo da média e pior do que em outros países em que tampouco brilha pela ausência.
Edu: E olha que nem falamos da Itália, onde estão os grandes especialistas em fabricar resultados.
Carles: Um clássico!
Edu: Modelo Berlusconi...
Carles: “Il cavalieri scuro” é produto típico da cultura que Fellini retratou como ninguém.

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