Edu: Temos aqui um perigoso
momento de descrédito e falta de esperança em torno de quase tudo o que ronda o
futebol brasileiro. E dificilmente a Copa das Confederações não será
contaminada por esse pessimismo generalizado.
Carles: Uma pena, um torneio que
precisa muito do entusiasmo do organizador. E, de todas as edições, esta
parecia a mais prometedora, pelo nível dos participantes.
Edu: Pois é, seria um
importante revitalizador em circunstâncias normais. Acontece que os problemas
se multiplicaram. Há muito atraso nas obras, o que não seria novidade se, por exemplo,
o principal estádio, o Maracanã, estivesse concluído no prazo previsto,
dezembro de 2012. Mas a coisa vai ficar para a última hora e o Maracanã receberá
o torneio sem testes Outros estádios, como os de Recife e Brasília, também
estouraram prazos e, para complicar, o segundo maior estádio do Rio, que
poderia ser uma alternativa de emergência, o Engenhão (construído para o
Pan-americano de 2007), foi interditado por problemas na estrutura da cobertura.
Carles: Eu soube dos problemas
com o Engenhão. De repente o Rio ficou sem um estádio importante. Mais ou menos
previsíveis esse problemas com os cronogramas de obras de infraestrutura, parte
da cultura. Por isso, fico pensando se a verdadeira causa do desânimo é esse ou
o total divórcio entre a direção do esporte e a sociedade. Sinto que o torcedor
não se sente representado nem pela sua federação, nem pelos times que cada vez
menos têm a sua cara. E, pior, não vê perspectivas de mudança, se sente
absolutamente impotente.
Edu: Acho até que atrasos em
obras nem seriam tão destacados se o momento esportivo fosse mais animador.
Tanto na Alemanha quanto na África do Sul, houve problemas na Copa das
Confederações - talvez não tantos. Esse torneio foi criado para ser de fato um
evento teste. Mas as dificuldades estão potencializadas pelo momento do
futebol. A confiança nos dirigentes é frágil, a seleção vai de mal a pior, os
torneios regionais estão desprestigiados, são pura perda de tempo. O torcedor
não é idiota e não fica imune. O atual campeão brasileiro, o Fluminense, jogou
ontem no Rio, pelo Campeonato Carioca, para um público inferior a mil
pessoas!!! E O Campeonato Paulista é outro desastre: o Palmeiras perde de 6 a 2
do Mirassol. Onde estamos?
Carles: Falta capacidade
organizativa, mas sempre faltou. O futebol brasileiro sobrevive há décadas à incompetência
dos seus dirigentes. Foi pentacampeão em campo sendo pífio fora dele. Em cima
da hora, não é difícil uma reviravolta esportiva, que um par de jogadores
desabroche e lidere um time vencedor. Agora parece pouco provável, mas não
seria a primeira vez que aconteceria. Se isso ocorrer você não acha que, mais
uma vez, os problemas de estrutura e a corrupção iriam para debaixo do tapete? E
seguiriam programando-se torneios inócuos e sem sentido, em prejuízo do
torcedor?
Edu: Amenizariam bastante,
porque sempre há setores que costumam magnificar pequenas conquistas. Mas não
há mais como esconder os descasos que fazem o torcedor ser sistematicamente
colocado em segundo plano. Tanto que até mesmo alguns clubes resolveram agir de
forma autônoma, cuidando do seu feudo - e o futebol brasileiro que se lixe.
Insisto: é um momento estranho, difícil de definir. E, por isso, perigoso. O
mais interessante seria estar conversando aqui apenas sobre as coisas do jogo,
de dentro do campo.
Carles: Imagino que jogar para
700 e poucos torcedores não deve ter tido muita graça para quem estava dentro
de campo. A organização do torneio é tudo. Já falamos muito aqui de que a Liga
Espanhola há alguns anos é coisa de dois, mas o torneio segue sendo
emocionante, mesmo quando não está em jogo a liderança. E olha que tem muito
dirigente por aqui, tanto nos clubes como na federação, esforçando-se muito
para estragar tudo. Ou seja, o futebol é tão querido que parece ser
suficientemente resistente à incompetência. Portanto, continuo sem entender a
profundidade da crise por aí.
Edu: O futebol é extremamente
resistente, o torcedor dá respostas positivas e manda mensagens todos os dias,
quando há motivos para isso. Mas esse mesmo torcedor é implacável com o que é
mal feito. E ainda é preciso aturar oportunistas que querem crescer nesses
momentos - falamos outro dia de Romário, por exemplo, que já esteve a favor e
contra o Teixeira, a favor e contra o Marin. Vai entender... Dependendo do que
ocorrer na Copa das Confederações, eu diria até que pode significar a hora da
virada. Os poucos dirigentes com noções de gestão podem tomar atitudes mais
concretas, radicais se for preciso. Não deixa de ser uma luz...
Carles: Espero então estar
escrevendo o post do dia 30 de junho, dentro de três meses, desde a arquibancada,
vestido de "rojo" e diante da final da Copa Confederações tão
esperada, Brasil e Espanha. Acho que isso levantaria os ânimos, ambos estão
precisando. Só fica faltando o estádio.
Edu: Mero detalhe...
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