Carles:
Na semana em que Del Bosque andou respondendo sobre a possibilidade de Diego Costa,
jogador do Atético de Madrid, ser chamado para a seleção espanhola, Felipão
antecipou-se.
Edu:
Foi a surpresa desta convocação, claro. Quem esperava Diego
Costa desde já na Seleção?
Desconfio até que nem o próprio Felipão viu tantas vezes assim o Diego, a não
ser no jogo-chave, contra o Sevilha, na semana passada, no qual ele foi o
principal nome do Atlético. Mas acho que o Felipão convocou mais pela
insistência dos seus informantes do que por tê-lo visto em campo. E por um
detalhe especialíssimo. Sabe quem é o agente do Diego Costa? Senhor Jorge Mendes,
o português mentor do Mourinho. Sabe quem cuida das coisas do Felipão na
Europa? Senhor Mendes.
Carles: Hummm,
algo cheira mal. Felipão disse que esteve na Europa, na semana passada. E nem
sei se Felipão conhece as duas caras do Diego, capaz de levar seu time à
vitória e de ser expulso de campo no mesmo jogo.
Edu:
Aí que está, provavelmente não conhece.
Carles:
Aliás, a outra surpresa vem da mesma cidade.
Edu:
Kaká?
Carles:
Isso. E você que conhece melhor o homem: pelo que ele disse, é possível que
esteja dando a entender que na Copa Confederações estará Ronaldinho ou Kaká,
nunca os dois?
Edu:
Não acho que o Kaká chegue a ser surpresa, Aliás, tem mais o jeito do Felipão e
do Parreira do que o próprio Gaúcho, porque é um cara de grupo, que nunca vai
criar caso. Mas que não tem lugar para os dois juntos é mais do que certo. De
todo jeito, o que mais chamou a atenção foi o perfil que ele está querendo para
a Seleção, em função dos caras de excluiu da primeira convocação, substituindo
por outro tipo de jogador agora. É o Felipão de sempre.
Carles:
Ou seja, esta é a verdadeira convocação do Felipão (e do Parreira) e não a
anterior? Se é assim, a derrota para a Inglaterra não foi um resultado de todo
negativo para os planos da comissão técnica? É isso? Foi a desculpa perfeita
para adotar definitivamente um esquema mais mesquinho…
Edu:
Certamente, porque aquele jogo serviu para algumas questões nevrálgicas quando
se trata de Felipão e Parreira. Primeiro, eles querem caras participativos e
combativos, antes de tudo. Daí Diego e Hulk, e não Luis Fabiano; Kaká, e não
Ronaldinho. Em segundo lugar, tem a questão dos volantes tradicionais. Ele
retirou um, Arouca, mais habilidoso e que falhou individualmente naquele jogo,
e trouxe dois para o lugar, Fernando e Luiz Gustavo. São volantes mesmo, que
até sabem dar um chute de fora da área, mas são jogadores de marcação, sem a
mobilidade do Paulinho e do Ramires, que certamente não jogarão mais juntos.
Será um ou outro.
Carles:
Ele foi claro. Diego Costa luta e facilita o trabalho do jogador que tem ao
lado… seria o Kaká? Bom, o tema dos volantes já sabíamos, mais cedo ou mais
tarde ia acontecer.
Edu:
Kaká ou Oscar, quem sabe? Mas o ponto mais cruel da justificativa sobre a
convocação ficou bem claro quando Felipão disse sem ficar corado: “Nossa
primeira preocupação é não tomar gols". Tem algo mais Felipão e Parreira
do que isso? Teremos ou não aquele retrocesso
tático de que falamos há mais de um mês?
Carles:
Muito pouca ambição para a seleção pentacampeã… E, de alguma forma, contra a
tendência atual dos grandes times de ter a posse de bola e valorizá-la.
Edu:
O consolo é que, salvo uns poucos jogadores (talvez Adriano, do Barça,
Alexandre Pato, que está voltando a jogar bem, e mais algum), os melhores estão
todos aí, não tem muito o que inventar. Os seja, se esses jogadores assumissem
a Seleção, como aconteceu com o próprio elenco do Felipão em 2002, aí teríamos
um bom time. Autogestão é a solução.
Carles:
Mas ele sabe disso?
Edu:
Nem desconfia...
Carles:
Como imagino que eu tenha visto o Diego Costa jogar mais o que o próprio
Felipão, vou dar uma dica. Apesar das características diferentes, tanto ele
como o Kaká ou o Oscar fazem, de forma distinta insisto, a função do ‘segundo
punta’. Ou muito me engano, ou será preciso um verdadeiro ‘ariete’, tipo Falcao
do Atlético. Tem alguém com essas características?
Edu:
Aí nesse grupo tem o Fred, eventualmente o Hulk.
Carles:
O Fred então, não vejo o Hulk e o Diego Costa no mesmo time, é "energia"
demais…
Edu:
O problema é que no Brasil de hoje a demarcação de 'segundo punta' ainda é
ocupada pelo Neymar. É ali que ele joga e não como atacante puro. Acredito mais
numa formação conservadora, com dois volantes de marcação rígida, Kaká, Oscar e
Neymar mais à frente, atrás do centroavante. Se for o caso de colocar um mais
um atacante, sai o Kaká. Diego Costa, em princípio, é só banco.
Carles: Neymar,
se não me engano, parte de uma posição mais aberta, um pouco como o Iniesta,
não?
Edu:
Um mix de Iniesta e Messi (quem me dera!), porque entra muito pelo meio também.
Carles:
O Neymar pela esquerda e o Oscar pela direita… Neste caso, estou ansioso para
ver esse desenho tático no campo, dia 21, contra a Itália.
Edu:
Como princípio, o ideal era formar o time em torno dos dois principais
jogadores, Neymar e Oscar, mas como se trata de Felipão e Parreira é quase certa
a aposta numa delimitação mais rígida de espaços. Nesse caso, Neymar e Oscar
não poderiam circular muito, que é o que fazem de melhor. O resto, vamos ver em
campo.
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