quinta-feira, 28 de março de 2013

‘La Roja’ quase de volta


Edu: Vi só meia hora do jogo e me pareceu estranho a 'Roja' ter que fazer um esforço imenso para reverter a situação, enquanto a França só arriscava raramente. Foi o tempo todo desse jeito?
Carles: Não, foi uma partida vibrante e bastante movimentada. Sem chegar a ser um exemplo de futebol, digno de uma copa do mundo. Ainda não vimos a melhor Espanha, o suficiente para reverter a situação no grupo das eliminatórias e recuperar a autoestima. Já a França pareceu-me que sofreu as típicas panes mentais que a caracterizam, como na última Eurocopa, quando foi desclassificada pela Roja sem demasiado esforço.
Edu: Só que desta vez achei a França, no pouco que vi, um time ao menos estruturado. E sabendo explorar algumas fraquezas do lado direito da Espanha, um tanto fragilizado pelo fogo amigo entre Piquet e Arbeloa. Mas o Deschamps errou feio ao não escalar de início o Didier Giroud. Era jogo para ele...
Carles: Não estou totalmente de acordo. Achei o esquema do Dechamps estático, antinatural para a França. Além disso, como a Espanha saiu com Pedro e Villa (mais Xabi Alonso bastante ativo nas jogadas diretas, sem tanto toque), acabou fixando os laterais da França, Evra chegou muito pouco. Quem iria cruzar as bolas para o "gigante" Giroud? O pequeno Valbuena demonstrou ser insuficiente, confirmou que a sua condição ideal é a de "revulsivo", entrando durante o jogo. O Ribery não esteve mal, mas pouco associativo.
Edu: Ribery é um bom servidor do Giroud e Valbuena fez isso muito bem na partida anterior das Eliminatórias (contra a Geórgia). Tem jogado muito e merece ser titular. Acontece que, com Benzema, o time pareceu sem profundidade, uma cena que vem se repetindo. De qualquer jeito achei nesses minutos que vi que Xavi, Iniesta e Monreal - além de Xabi Alonso bem lembrado por você - se desdobraram pelos outros. Xavi pareceu revigorado, querendo mesmo demonstrar liderança técnica. Pela imprensa espanhola, porém, quem não viu o jogo pode imaginar que perdeu um show de bola: 'Asi ganan los campeones! (Marca); 'Por algo somos campeones' (AS); 'Respuesta de campeón' (El País). A soberba de volta.
Carles: Ufanismo exacerbado, tem razão. Também é preciso reconhecer o mérito da equipe espanhola ontem depois de eles mesmos terem se metido nessa enrascada com os dois empates em casa. Não era fácil, eu mesmo não estava certo da vitória. Monreal fez sua melhor partida na seleção, demonstrou personalidade fazendo o jogo dele, muito mais previsível que o de Jordi Alba, mas confirmando que o problema da Espanha segue sendo a direita. Também no futebol.
Edu: Só que, ao contrário do PP de Rajoy, o Marquês me parece que terá, pela primeira vez, obrigação ter mão forte para desatar alguns nós. Arbeloa e Piquet é o primeiro; a falta de contundência de Villa, o segundo; e a hesitação sobre um esquema radical de toque, que no caso da Espanha poderíamos chamar de 'conservador' porque é o que o time tem feito, ou algo mais ousado. Acho que tipos como Cazorla e Navas merecem mais atenção. E talvez também o Michu, como alternativa de centroavante tradicional. Sem falar no Isco, que torço para ser titular o quanto antes, quem sabe em 2014 por aqui.
Carles: Isco vai ser titular mais cedo ou mais tarde. Se for mais cedo, sempre existe o risco de queimá-lo. Melhor para ele próprio ir entrando aos poucos e não em situações limite, como a de ontem, circunstâncias capazes de criar ídolos ou de enterrar craques. Quanto mais, uma promessa. Navas foi fundamental para segurar a França lá atrás no segundo tempo. O problema é que ele chegava sozinho e não tinha para quem cruzar. Vacilou o Marquês que ia colocá-lo no lugar do Pedro quando o canário do Barça fez o gol, decidiu tirar o Villa. Era o momento para ‘el Guaje’ com Jesus Navas em campo. Pedro estava cansadíssimo e meio contundido. Quanto a Piquet, não o vejo tão ruim assim. Sei que incomoda um pouco esse ar dele de autossuficiência catalã. Quero ver ele sem o Arbeloa para pajear.
Edu: Temos uma perspectiva bastante clara na Copa das Confederações: até segunda ordem, a torcida brasileira estará ao lado da Espanha, porque para o time nacional a expectativa é a pior possível. Adotar a 'Roja' é um ato de simpatia, nada mais que isso. Não será uma torcida fervorosa, mas um sorriso de canto de boca, sincero porém discreto, do tipo 'não falei?' Mas ainda acho que o time do Marquês precisa ter mais constância e não sofrer tanto para vencer por falta de finalizadores. Por outro lado, tenho a sensação de que a Itália será o grande time desse torneio.
Carles: Com mérito pela coragem de mudar, a Itália é a seleção com maior cota de evolução. Acredito e espero que a Espanha também evolua, não se acomode sobre um modelo vencedor. As mudanças apontam desde o grane inspirado Barça que já busca alternativas de jogo e variações. A possível confirmação do alemão Mats Hummels para as próximas temporadas mostra que os blaugranas buscam fugir da dependência do tiqui-taca. Hummels provavelmente será o substituto a curto ou médio prazo de Puyol para fazer o que Alonso fez ontem desde o meio campo, sem desfigurar o jogo medular dos catalães. Se der certo, é provável que esse jogo híbrido migre para a ‘Roja’.
Edu: Tenho a impressão de que, no caso da Copa das Confederações, vai depender muito da Champions, de até onde Barça e Madrid vão chegar e de como estarão os principais jogadores em junho. Se Xabi, Xavi e Iniesta chegarem aqui exaustos, temo pela 'Roja'.
Carles: Sempre tem a possibilidade de pedir emprestado o balão de oxigênio aos "hermanos".

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