segunda-feira, 4 de março de 2013

Me gusta ser portero

 
 Clip promocional de Gol TV

Carles: Não é que eu considere Victor Valdés um talento natural como Casillas, mas acho que ele é um digno segundo goleiro para a seleção. No entanto, tenho entendido que vocês acham ele muito ruim por aí. É verdade?
Edu: Não é unanimidade, mas muita gente pensa assim. Pessoalmente, não acho que seja um goleiro desprezível e considero que a personalidade dele compensa algumas deficiências. Personalidade é metade de um bom goleiro.
Carles: Absolutamente de acordo. Ele tem uma história esportiva interessante porque ainda hoje lembra que até os 18 anos era um suplício para ele ir treinar e jogar. Essa questão me sensibiliza pessoalmente, já que tive um caso parecido aqui em casa. Meu filho mais novo adora jogar no gol e quando tinha 11 anos, chegou a ser sondado pelo Valencia, mas odeia competir.
Edu: Ou seja, ele, Valdés, deve ter seguido adiante principalmente por gosto mesmo, um idealista do futebol.
Carles: Segundo ele, algumas pessoas do clube teriam influenciado do ponto de vista psicológico para que ele seguisse jogando e competindo. Quanto à forte personalidade, ele demonstrou isso recentemente quando anunciou que não queria seguir no clube ao finalizar o atual contrato. Sendo catalão e jogador da "la masía", imagino que ele sabia de antemão como isso podia repercutir nas relações com a torcida. É possível que tenha algum tipo de acordo verbal com algum clube inglês, não acha?
Edu: Pode ser, mas tenho a impressão de que ele teria suficiente segurança pessoal para fazer isso por conta e risco, por querer mudar simplesmente. Mesmo no Barça, em outras ocasiões, duvidaram muito dele tecnicamente, chegou a ser vaiado no Camp Nou nos primeiros tempos de titular. Mas administrou bem essas adversidades. E o que ele fez, antecipando o anúncio de sua saída, foi bastante corajoso. Foi como desafiar a doutrina um tanto sectária do ‘barcelonismo’. Imagina um cara dizer que quer sair assim, na lata? Tanta gente quer jogar no time dos sonhos e o cara diz que quer sair...
Carles: Aparentemente, ele é um cara introspectivo, e isso permite que ele não demonstre eventuais inseguranças. Costuma mesmo ser reservado, inclusive são raras as explosões como a de sábado depois do jogo no Bernabéu que acabou com a sua expulsão. Não chegaria ao exagero de chamar de sectarismo, mas sim existe um consenso não escrito, algo do tipo "como ele ousa sair, sendo catalão e estando no melhor clube do mundo?” Os ‘culés’ nem imaginam o favor que Victor está fazendo ao Barça, trazendo-o de volta à terra.
Edu: Ele esteve aqui recentemente, de 'vacaciones', e deixou ótimas impressões, ganhou muitos simpatizantes. Deu inúmeras entrevistas, foi bastante receptivo, mostrou um grande conhecimento das coisas do futebol, foi transparente, não fugiu dos temas delicados e demonstrou muita clareza em suas convicções. Certamente faria sucesso em qualquer time grande daqui, pela experiência que tem e pela liderança que poderia trazer.
Carles: Seria muito interessante e os filhos deles estariam perto da família materna, colombiana. Seria ideal ver que o fluxo de contratações entre Europa e América do Sul, decididamente os dois mercados mais importantes, fosse muito mais equilibrado. E não só com jogadores em fim de carreira, como Seedorf e Forlan.
Edu: Seria bem-vindo... Mesmo que o sangue catalão às vezes ferva, como no sábado, depois da derrota. Foi capitão e no fim disse poucas e boas ao árbitro.
Carles: Quem jogou um pouquinho de futebol até compreende a atitude dele, né?
Edu: Ele teve suas razões.

Nenhum comentário: