Clip promocional de Gol TV
Carles:
Não é que eu considere Victor Valdés um talento natural como Casillas, mas acho
que ele é um digno segundo goleiro para a seleção. No entanto, tenho entendido
que vocês acham ele muito ruim por aí. É verdade?
Edu:
Não é unanimidade, mas muita gente pensa assim. Pessoalmente, não acho que seja
um goleiro desprezível e considero que a personalidade dele compensa algumas
deficiências. Personalidade é metade de um bom goleiro.
Carles:
Absolutamente de acordo. Ele tem uma história esportiva interessante porque
ainda hoje lembra que até os 18 anos era um suplício para ele ir treinar e
jogar. Essa questão me sensibiliza pessoalmente, já que tive um caso parecido
aqui em casa. Meu filho mais novo adora jogar no gol e quando tinha 11 anos,
chegou a ser sondado pelo Valencia, mas odeia competir.
Edu:
Ou seja, ele, Valdés, deve ter seguido adiante principalmente por gosto mesmo,
um idealista do futebol.
Carles:
Segundo ele, algumas pessoas do clube teriam influenciado do ponto de vista
psicológico para que ele seguisse jogando e competindo. Quanto à forte
personalidade, ele demonstrou isso recentemente quando anunciou que não queria
seguir no clube ao finalizar o atual contrato. Sendo catalão e jogador da
"la masía", imagino que ele sabia de antemão como isso podia
repercutir nas relações com a torcida. É possível que tenha algum tipo de
acordo verbal com algum clube inglês, não acha?
Edu:
Pode ser, mas tenho a impressão de que ele teria suficiente segurança pessoal
para fazer isso por conta e risco, por querer mudar simplesmente. Mesmo no
Barça, em outras ocasiões, duvidaram muito dele tecnicamente, chegou a ser
vaiado no Camp Nou nos primeiros tempos de titular. Mas administrou bem essas
adversidades. E o que ele fez, antecipando o anúncio de sua saída, foi bastante
corajoso. Foi como desafiar a doutrina um tanto sectária do ‘barcelonismo’.
Imagina um cara dizer que quer sair assim, na lata? Tanta gente quer jogar no
time dos sonhos e o cara diz que quer sair...
Carles:
Aparentemente, ele é um cara introspectivo, e isso permite que ele não demonstre
eventuais inseguranças. Costuma mesmo ser reservado, inclusive são raras as
explosões como a de sábado depois do jogo no Bernabéu que acabou com a sua
expulsão. Não chegaria ao exagero de chamar de sectarismo, mas sim existe um
consenso não escrito, algo do tipo "como ele ousa sair, sendo catalão e
estando no melhor clube do mundo?” Os ‘culés’ nem imaginam o favor que Victor
está fazendo ao Barça, trazendo-o de volta à terra.
Edu:
Ele esteve aqui recentemente, de 'vacaciones', e deixou ótimas impressões,
ganhou muitos simpatizantes. Deu inúmeras entrevistas, foi bastante receptivo,
mostrou um grande conhecimento das coisas do futebol, foi transparente, não
fugiu dos temas delicados e demonstrou muita clareza em suas convicções.
Certamente faria sucesso em qualquer time grande daqui, pela experiência que
tem e pela liderança que poderia trazer.
Carles:
Seria muito interessante e os filhos deles estariam perto da família materna,
colombiana. Seria ideal ver que o fluxo de contratações entre Europa e América
do Sul, decididamente os dois mercados mais importantes, fosse muito mais
equilibrado. E não só com jogadores em fim de carreira, como Seedorf e Forlan.
Edu:
Seria bem-vindo... Mesmo que o sangue catalão às vezes ferva, como no sábado,
depois da derrota. Foi capitão e no fim disse poucas e boas ao árbitro.
Carles:
Quem jogou um pouquinho de futebol até compreende a atitude dele, né?
Edu:
Ele teve suas razões.
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