Carles: Não
é nenhuma novidade, mas acho que, hoje, assistimos ao campeão da Champions.
Edu:
Sim, assistimos. E de um jeito alemão de jogar - com talento, mas alemão.
Carles:
Os alemães estão se reinventando, inspirados no jogo dos baixinhos “jugones”,
mas jogado por super-homens, capazes de mostrar talento, de bloquear e aguentar
90 minutos no mesmo ritmo. Forte, muito forte. Má notícia para o Barça, má
notícia para ‘La Roja’, para o Madrid e para o resto dos adversários do próximo
Mundial.
Edu: E essa originalidade/intensidade passa por contestar um emblema: o da
posse de bola. Esse jogo foi significativo nesse sentido. A certa altura pouco
importava para o Bayern ter a posse de bola, porque o domínio vinha com a segurança
do que estavam fazendo mesmo sem ter a bola, a história muitas vezes repetida
de não correr riscos ainda que diante de um time como o Barça. Além da receita
germânica de marcação com massacrante superioridade física, uma virtude de
sempre por aqueles lados.
Carles:
Em parte. O segredo, acredito, não é a posse de bola, mas a rapidez para
recuperá-la e nisso o time do Bayern foi irrepreensível. Se não chegou a uma
porcentagem de posse de bola superior, tampouco
deixou o adversário desfrutar de ter a redondinha. Em resumo, o Bayern mostrou
um coquetel ideal de várias fórmulas. Além da recuperação quase imediata da
bola, a rapidez de circulação que têm mostrado os melhores antídotos ao Barça e
a movimentação dos homens de frente. Muita, mas muitíssima mobilidade para
variar rapidamente o desenho sobre o campo. Diversificando a postura para
receber os ataques e para efetuá-los.
Edu:
Ainda assim é preciso levar em conta algumas 'facilidades', incluindo uma
forcinha básica da arbitragem em dois gols. Por exemplo, times mesquinhos como
o Chelsea e mesmo o Real Madrid não abririam avenidas com tapetes vermelhos
para Robben e Ribery desfilarem como fez o Barça. Se essa não é uma vocação do
time catalão, o que é saudável, fica complicado quando não há alternativas em
um dia que suas individualidades não funcionam. Estranhíssimas a passividade de
Iniesta e a falta de criatividade de Xavi. E, agora, depois do jogo, fica fácil
de dizer: foi um erro colocar Messi em campo daquela forma. Um castigo para ele
e para o time.
Carles:
Sem dúvida foi um erro escalar Messi desde o princípio, mas quem é o macho para
decidir não escalar o argentino? E, pior, quem diria isso para ele??? Visível a
falta de condição mínima de jogo. Inclusive, diria, prejudicou o resto do time,
que acabou travando nele. Incrível dizer isso, mas acho que a presença de Leo
prejudicou o jogo de Iniesta e Xavi, que se vêm sempre na obrigação de procurar
o argentino para concluir a jogada. Quanto à arbitragem, evitei falar nisso
para não parecer choro de perdedor, mas definitivamente, os homens que decidem
o destino desse esporte tem que pensar em mudanças imediatas. Não que uma boa
arbitragem tivesse mudado o destina da partida, mas o atual estado de coisas,
além de acabar decidindo muitos resultados, acaba por irritar jogadores,
treinadores… e o espetáculo fica distorcido.
Edu:
O próprio Barça tinha sido ajudado pela arbitragem antes, com aquele pênalti obsceno
do Piquet não marcado. Ok, juiz muito ruim, auxiliares péssimos. Mas o exagero
da superioridade dos alemães vai deixar essa discussão em segundo plano até
mesmo na Catalunha. É isso que assusta. Em certo momento pareceu um jogo de
adultos contra sub-20. Só que era o Barça!!!
Carles:
Mais que inferioridade do Barça foi a superioridade do Bayern (e a fragilidade
defensiva do Barça, claro). Achei inclusive que o Barcelona em alguns momentos
mostrou até mais lucidez que na ida contra o PSG, em Paris. Não vejo ninguém
capaz de frear esse time alemão. E no ano que vem, reforçado pelo talento de
Götze… imparáveis. Götze, aliás, que o Madrid já colocou em campo contra seu
próprio time, utilizando o noticiário sobre a sua transferência. Uma estratégia
habitual do “club blanco”.
Edu:
Não sei se foi o Madrid, mas funcionou, porque o caldeirão de Westfalen não
deve receber bem o garoto 'traíra' na semifinal contra o time do Mourinho. E na
Copa, já veremos. Se a 'Roja' montou um Barça reforçado por Iker, Xabi Alonso e
Ramos, a Alemanha terá o Bayern reforçado por Özil, Hummels e Marco Reus, além
do Götze claro. Quero ver quem segura esses caras. Se tivesse que palpitar
hoje, já escolheria minha finalíssima do Maracanã no dia 13 de julho do ano que
vem: Alemanha e Argentina.
Carles: E se assim for, fora do estádio, o clima será parecido
ao de um velório.
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