Edu:
Outro dia falamos de passagem sobre justiça no futebol, algo em que
pessoalmente não acredito, porque, se existisse, tiraria boa dose da graça
desse jogo. Tivemos mais uma mostra disso na Champions com o valoroso time de
Antonio Banderas e Manuel Pellegrini...
Carles:
Não pude rever o terceiro gol do Borussia, mas parece que mais uma vez o alto
custo da tecnologia decidiu um jogo tão importante. No caso del Ingeniero, tudo
tem um valor superlativo, o homem saiu direto do jogo de sábado válido pela
liga para o enterro do pai no Chile e voou direto de lá para Dortmund para
dirigir o time. Mesmo assim, temos que reconhecer que o time alemão é muito
bom, mas peca de juventude e inexperiência.
Edu:
Só que, nesse jogo especificamente, essa equipe bem interessante do Dortmund
levou um banho tático do chileno. Pellegrini tem o mérito de extrair o máximo
possível de cada jogador. É difícil dizer quem jogou mal, embora seja um grupo
sem craques. Todo mundo tem uma função tão importante e participativa que a
forma compacta de jogar, extremamente organizada, surge automaticamente. É
justamente o tipo de técnico que não precisa de craques para fazer um time, um
especialista de que tanto precisamos, por exemplo, no Brasil de hoje, em que
sobram bons jogadores mas não há craques. Ontem foi um tutorial do bom
treinador, mas alguns desvios de atenção nos últimos minutos custaram a
classificação.
Carles:
É muito complicado defender esses minutos para qualquer time do planeta e mais
tendo em conta o clima que se vive em Dortmund nesta e nas últimas temporadas.
Parecia impossível perder a classificação, os "boquerones" se
desconcentraram mesmo e o futebol de alta competição não perdoa. Uma
desclassificação nessas circunstâncias vai colocar à prova de verdade a direção
de Pelegrini, que conseguiu a proeza com um time inferior aos demais e
recuperando jogadores quase aposentados como Júlio Baptista, Joaquin, De
Michelis, Saviola, Roque Santa Cruz, Duda e uma ainda promessa como Isco.
Edu:
Não vejo quem em Málaga, em toda a Espanha e no mundo do futebol que não
reconheça a dignidade desse trabalho do chileno. Alguns desses jogadores
estavam condenados nos seus times, casos de Toulalan no Lyon e De Michelis no
Bayern. Foi uma ressurreição desses caras. Mesmo Joaquin parecia em franco
declínio. Só comprova a seriedade da proposta, a eficácia de um jeito de jogar
que, longe de ser feio, é objetivo e dirigido, meticulosamente dirigido. E que
abre espaço para novidades como Isco poderem crescer com consistência.
Carles: É
mérito de um chefe conseguir entusiasmar esse tipo de jogadores e não acho que
seja só trabalho psicológico. Pelegrini é mais bem um cara introvertido só que
demonstrando seriedade, não entrando em bate bocas nem com a imprensa nem com
outros treinadores provocadores, demonstrando aos seus comandados que sabe
posicionar um time em campo… tudo isso cria um clima motivador por si só, sem
necessidade de demasiadas manobras mentais.
Edu:
É um padrão de comportamento raro para treinadores da linha de frente do
futebol mundial, embora eu considere que ele é um motivador nato, sem precisar
de exageros e maneirismos. Quantos caras com essa postura do Pellegrini vemos
nos times de ponta hoje em dia? Basta ver o que aconteceu no jogo de Istambul,
uma eliminatória que estava resolvida, mas que, por soberba, quase se complica.
Carles:
Não era difícil prever que o Madrid perderia o jogo. A avalanche do Galata na
volta do intervalo era previsível para quase todo muno menos para o rei da
soberba, pelo visto. E não era só uma questão de colocar mais homens de
contenção, mas de reposicionar o time, compactá-lo para dificultar a circulação
da bola, coisa que o Málaga demonstrou saber fazer, apesar o resultado final. E
claro que o ar rarefeito no ambiente do vestiário dos merengues também não
ajuda nada. Uma fogueira das vaidades e sem controle.
Edu:
Podem pagar esse preço alto na semifinal, independente do adversário. E por
enquanto se mantém a expectativa de dois espanhóis e dois alemães seguirem em
frente. Estamos pendentes do que vai acontecer no Camp Nou, com ou sem Messi.
Carles:
Torcendo e retorcendo.
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