Edu: A “nova-velha” fase Felipão na Seleção
Brasileira e a decantada entressafra de jogadores de primeira linha reabriram
uma discussão que nunca terá fim por aqui: este é o momento de engavetar
temporariamente o jogo bonito e assumir que o que importa são os resultados?
Carles: Advogo pelo não. Viva o jogo bonito e
que se danem os resultados. Bom, estou exagerando. Ganhar e, em cima, jogar bem
é satisfação em dobro, como defendia na semana passada Xavi Hernández em
entrevista concedida a UEFA.com , em que as
principais ausentes foram as frases feitas: “Estou
convencido de que no futebol o resultado é um impostor, porque pode-se fazer
tudo muito, muito bem, e assim mesmo não ganhar. Por isso, existe algo mais
importante do que o resultado, algo mais duradouro: o legado".
Por outro lado, no caso do Brasil, o tempo passa, aproximam-se as Copas
Confederações e Mundial… as urgências nunca foram boas conselheiras.
Edu: Pois é, é o que os advogados do
apocalipse estão pregando neste momento. Lógico: com Felipão por aí, não há
hipótese de lucidez a vista, nem outro jeito de jogar bola. Mas o futebol de
resultados é algo que conquistou uma grande legião de defensores por estes
lados nos últimos 20 anos, uma praga que é abraçada por muitos treinadores. E
quem é contra é chamado de poeta...
Carles: Ibrahimović, ao bater de frente com Guardiola
e sua forma de pensar, chamou o técnico catalão de filósofo, como forma de
criticá-lo na sua busca obsessiva do jogo perfeito, estético e eficaz.
Edu: Pois é, usam poeta como sinônimo de
ingênuo, sonhador, naif, sei lá mais o quê...
Carles: Sim, entendi. Acho que a habilidade está
na essência desse esporte tão particular, mesmo que às vezes prevaleça o
físico. Sinceramente, acho que o Brasil está na contramão. O futebol na
Alemanha está empenhado em imitar a Espanha. E eles não estão preocupados em dissimular.
A ida de Pep para Munique faz parte do plano. E tem ainda Joachim Löw e Jürgen Klopp, filhos de um novo tempo que busca reciclar-se, refinar
um futebol normalmente de resultados. Sinal de humildade e de inteligência. Não
é difícil prever que os alemães serão capazes de copiar, aperfeiçoar e adaptar
os modelos Barça e “La Roja”.
Edu: Em princípio, é o que todos queremos, ou
quase todos. Mas tem um pedaço
importante dessa história que não podemos ignorar, que é o papel protagonista
do torcedor. Há o torcedor de clube, que se transforma quando é torcedor da
Seleção. No clube, vale tudo por um título inédito, por uma decisão contra o
grande rival, por um conquista internacional etc. Esse torcedor é compreensivo
com o jogo feio, mas eficiente. Ele quer ser campeão. Claro, se ganhar e jogar
bem, tanto melhor. Mas na Seleção, o torcedor não costuma perdoar jogo feio,
ainda que eficiente. Seja porque a ligação afetiva é diferente, seja porque
fica mais fácil racionalizar: em princípios estão ali os melhores, então, que
joguem bem, bonito e ganhem.
Carles: O problema é que a adoção do jogo feio pode
muito bem não trazer as vitórias. As probabilidades de isso acontecer são bem
maiores do que jogar bonito e perder, pode estar certo. Quanto à mudança de
critério, não esqueçamos que o universo do torcedor de seleção é mais
abrangente e entra na categoria de leigo. Reconhecer algo bonito não exige
conhecimento técnico, é só uma questão de bom gosto. O torcedor habitual, o do
clube, aquele que segue o time toda semana e todos os meses do ano, contempla o
rendimento a longo e médio prazo. Portanto, é capaz de tolerar um jogo não tão
bonito em favor da eficácia e dos resultados. É só uma possível explicação, não
uma justificativa.
Edu: Entenda bem, Carlão, você não precisa me
convencer disso. Abomino, como você, o jogo feio, não vou ao campo assistir
jogos dos times do Felipão, mudo de canal, fico longe desse tipo de futebol.
Mas, no caso do meu time, já vibrei muito por vitórias e até longas campanhas
com futebol pragmático. Só ressalto que é o ponto de vista do torcedor de fato,
o seguidor, ligado ao clube pó rum montão de outras coisas que não apenas o
prazer estético. O que está acontecendo agora é um processo de tentativa de
convencimento, de forma um tanto sutil, promovida por Felipão, Parreira e seus
muitos seguidores, de que é hora de ganhar a Confederações e o Mundial – e
basta. E que o torcedor seja capaz de concordar com isso. No fundo, estão com
medo de uma sistemática vaia nos próximos jogos, o que se transformaria numa
pressão insuportável. Particularmente, acho que o torcedor não engole essa
baboseira...
Carles: Se eu não estou enganado, o próximo
passo é o do bode expiatório. Certeza que vem por aí um sacrifício aos deuses.
Quem tem mais chances? Felipão? Parreira? Marin? Mesmo porque, com semelhante
pressão, a Copa Confederações parece a anos luz, não?
Edu: Tudo depende exatamente dessa Copa das
Confederações. De repente o time faz alguma coisa boa, vira um grupo de
brigadores, raçudos, e conquista o torcedor. Sei lá, pode ser. Tem muita gente
que pode preferir mais suor e menos inspiração. Nesse caso, teríamos um cenário
bem mais claro de tolerância, um torcedor mais fechado com o time, como
aconteceu na Copa de 1994, quando o que interessava era sair da fila de 24
anos. Só que todos sabemos que é pouco provável que aconteça. Sendo assim, só
uma ruptura mesmo - a saída do Marin por exemplo - poderia mudar alguma coisa.
Carles: É o principal candidato a ser o boi de piranha,
então? Não será uma pena.
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