Edu:
Temos que voltar a um tema blockbuster, inevitavelmente. Adivinha?
Carles:
Neymar.
Edu:
Difícil né? Bom, há cinco ou seis posts
falávamos da insanidade dos números envolvendo a Operação Neymar e a disputa
Barça-Madrid. Mas, desde então, parece que a ficha começou a cair. A primeira
reunião oficial dos dirigentes catalães com o pessoal do Santos foi um
fracasso: uma oferta de 15 milhões de euros.
Carles:
Ou é o que se divulga, números convenientes, pretexto para a recusa e saída da
mesa de negociações do pai da criatura sapateando, e para o Barça, nação ainda muito
desconfiada de que a contratação possa ser um risco, sem nenhuma garantia. E
tem mais: quando chegarem perto dos 35 milhões (começo a desconfiar que o Barça
oficialmente não passará disso), podem alegar que o esforço está sendo muito
grande, bem acima das possibilidades.
Edu:
Ficou claro que existe esse lado da negociação para a galera ver e o lado da
negociação real. Logo depois da primeira reunião desse diretor do Barça que
está aqui, Raul Sanllehí, surgiram notícias de que a oferta seria, na verdade,
de 27 milhões, mas mesmo assim o Santos continuava resistindo, apoiado pelo pai
do Neymar, enquanto a DIS, dona de 40% do passe, considerava a conversa um bom
começo. O momento do negócio é delicado, vésperas de uma final de campeonato, e
fica difícil deixar Neymar fora disso, o que torna ainda mais nebulosa a troca
de propostas. Mas, neste momento, o Santos não se conforma que Neymar deixe o
clube por praticamente metade do que foi pago pelo PSG por Lucas, o que é uma
comparação um tanto estúpida, porque nem os 35 milhões que você diz seriam
suficientes para equiparar as propostas (Lucas custou 43 milhões).
Carles:
Barcelona não é Qatar. Com o xeique do PSG não se brinca. Recadinho dele para
Florentino: quer levar o Ancelotti, leva, mas eu vou buscar o Cristiano por,
hummmmm, digamos 100 milhões. Estima-se que o Barça reservou 50 milhões para
contratações. Só que sempre há de se considerar uma coisa na hora de avaliar e
comparar as ofertas do Barça com, por exemplo, as do Madrid. No Barça, os
direitos de exploração de imagem e publicidade são integralmente para o atleta.
No Madrid, é fifty-fifty. Por isso as quantias pirotécnicas do Florentino. Ele
coloca o sujeito na prateleira e começa a faturar em cima dele.
Edu:
Mas você vai concordar que existe sempre a hipótese de Florentino baixar na
Vila e romper com todas as previsões. Só que, neste momento, é bom frisar, o
choque de realidade quem tomou foi o Santos, que entrou na onda delirante dos
últimos dias e achou que faria o negócio do século, nunca menos que 50 milhões
de euros na mão. Agora percebeu que não é bem assim, que os clubes europeus
pagam uma coisa para seus vizinhos e outra para sul-americanos. A impressão é
de que a oferta de 15 milhões representou um grande susto, isso sim. Uma boa
tática do Barça para trazer a negociação a um patamar muito mais realista.
Carles:
Exatamente. Matou, na mosca. É essa a tática e inclusive para deixar o
Florentino meio no ridículo diante dos torcedores do Madrid, também inseguros sobre
a contratação do Neymar. Essa foi a ideia do Barça, enviando alguém cujo cartão
de visitas diz ser responsável pelo departamento de futebol, mas com um papel
secundário na cadeias de mando do clube. Outro aspecto: existe um índice de
desvalorização que aparece no manual do dirigente europeu e que se aplica ao
valor do passe do jogador que vem do
outro lado do "charco". Esse índice se chama “tempo de adaptação”. Isso
eles aprenderam por aqui e esse período
pode ser de meses, temporadas ou nunca, até.
Edu:
E obviamente que a taxa de adaptação não é pequena. É diferente, por exemplo,
de pagar uma fortuna por Kaká ou Hulk, que já estavam aí, tinham já a pegada
europeia. O fato é que o Santos está num instante complicadíssimo. Ao mesmo
tempo em que não queria tratar do negócio antes da decisão do Paulistão, foi
pressionado a conversar porque, dependendo do que acontecer no jogo contra o
Corinthians, muita coisa pode mudar porque o mercado aproveita qualquer argumento
momentâneo para turbinar ou desidratar os valores. Vamos que Neymar acabe com o
jogo e confirme parte do que se pensa dele. O Santos na segunda-feira chegará
todo empavonado para negociar. Mas e se ocorre o contrário?
Carles:
Você quer dizer com isso que o Amarilla pode ser indicado para arbitrar o jogo
com o fim de valorizar o passe do menino?
Edu:
Amarilla não, porque nem passaria do aeroporto. Mas nunca se sabe... Certamente
teremos a seguinte situação na próxima rodada de negociações. Ou o Santos chega
dizendo 'esse é o meu garoto!' ou o Barça começa a conversa com um 'me parece
que não é tudo isso'...
Carles:
Não existe a chance de Neymar acabar mais ao norte? Há alguma possibilidade,
remota que seja, de que depois de tanto estardalhaço, outra gente que, por
exemplo, não goste de tourada possa assimilar uma contratação que acabou
virando um circo?
Edu:
Um ex-dirigente do Santos andou espalhando que o Bayern, a pedido de seu amigo
Pep, teria feito uma megaproposta pelo garoto e que já teria acertado tudo com
a família. Talvez seja mais uma especulação para ser colocada sobre a mesa.
Carles:
Parece especulação, sim. Inclusive não seria tão estranho assim que a obsessão
de Rossel por reencarnar em Neymar o maior êxito da vida dele, a contratação de
Ronaldinho, tivesse sido um dos tantos desencontros entre o cartola e Pep, e
que precipitou seu ano sabático.
Edu:
Próximo capítulo, no fim da tarde de segunda-feira.
Carles: Aguardemos.
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