Edu:
O Santos disse 'não'... Mas não é um simples 'não'. O Barça até aumentou em 4
milhões a oferta por Neymar (total de 22 milhões de euros só pelos 55% que
pertencem ao Santos), só que uma série de informações e argumentações paralelas
levaram o Comitê Gestor do clube a esnobar a proposta catalã.
Carles:
E essas informações são…?
Edu:
Todas vieram daí. Por exemplo, teve um impacto forte sobre os dirigentes a
notícia de que o Manchester United vai pagar 18 milhões de euros por Thiago
Alcântara, um reserva hoje sem muito prestígio no Barça. A Globo fez propaganda
desse negócio e virou a cabeça da moçada santista. Outra notícia: o Madrid
pediu à Juve 30 milhões por Higuain, um meio-reserva. Coisas assim são
suficientes para despertar uma reação irada contra o velho complexo de
vira-latas nos cartolas brasileiros: 'Se Thiago e Higuain valem isso, quanto
podemos conseguir por Neymar?'
Carles:
Já era de se esperar que o clube santista não resistisse a abrir um leilão.
Talvez o desespero pelas dívidas tenha conseguido alimentar momentaneamente a ideia
de que a oferta do Barça pudesse ser aceita. Por aqui se fala em 100 milhões do
Real Madrid e de 136 milhões do City. Imagino que esses números também chegam
por aí, não? E tem mais, os preços dos passes de Thiago e Higuain estão
relacionadas com as cláusulas contratuais, no caso do hispano-brasileiro, um
descuido (ele não cumpriu o número de minutos mínimos, necessários para manter
a blindagem original) baixou essa cláusula de 90 milhões a 18 milhões. E o
United não brinca em serviço. Se bem que também se fala do interesse do Bayern,
de Pep, concretamente.
Edu:
Os números não só chegaram aqui como são usados abertamente na mesa de
negociação. Ao comunicar que o Santos rejeitava a proposta, o vice-presidente
ressaltou que também estavam em discussão ofertas como a de Florentino. Só que
algumas posições nem tão explícitas, de ambos os lados, não são compreendidas
numa ação de mercado que envolve duas culturas esportivas que não batem. Ao
Santos, pouco importa que o Barça não queira participar de um leilão. O clube
aposta nos quase três meses que ainda terá até o fim da janela de
transferências para a Europa. Só não enxerga que aí pode estar a razão do
grande fracasso: Neymar quer o Barça e só o Barça. Ou fica até o ano que vem e
o Santos não leva um tostão.
Carles:
Como já cometamos no outro dia, a proposta do Florentino pode ser a mais
interessante para os especuladores, donos de parte do passe, enquanto para
Neymar, além da motivação que possa ter jogar no Barça e não se expor ao
ambiente normalmente pesado do clube da capital, os números oferecidos pelo
Real Madrid podem ser uma grande mentira. No Barça ele tem direito aos ganhos
integrais referentes à exploração da própria imagem. Já no Madrid, esses
rendimentos são repartidos meio a meio. Com Beckham, por exemplo, Florentino
recuperou o investimento da contratação só com a venda de camisetas em alguns
meses. Com Neymar, as previsões são de que isso aconteceria no prazo de 3 ou 4
meses. Se vier antes do verão, a tradicional turnê asiática já valeria para
amortizar grande parte do investimento. Pouco importa se o garoto vai estar
infeliz e seu rendimento vai ser baixo. Exemplos disso não faltam.
Edu:
Acontece, Carlão, que quem está negociando em primeiro plano é o Santos, que
não dá a menor importância para o futuro do Neymar, essa é a verdade. Acertada
a venda, adeus, a fila anda e vamos pagar as dívidas. O que fica claro neste
momento, porém, é essa falta de sensibilidade dos caras para negociar com a
faca no pescoço. Hoje, o Santos, que saiu todo orgulhoso da reunião por ter
dito um sonoro 'não' ao Barça, está na verdade em situação complicadíssima
porque pode ficar sem a grana ‘culé’, mas também sem nada daqui a dois meses
porque se Neymar pai e Neymar Júnior não quiserem, não há City e Florentino que
os convençam. Arrisco dizer que dificilmente o Barça fechará este negócio se a
coisa se prolongar além desta semana. Isso, se já não desistiu e só vamos ficar
sabendo em algumas horas.
Carles:
Esse orgulho pelo ‘não’ é que denota o complexo de vira-latas e essa, definitivamente,
não é a base de bons negócios e muito menos de um futuro à altura de Neymar no
futebol europeu. Florentino marcou as eleições no clube para 16 de junho e só a
estratégia de atrapalhar o negócio do rival, esse ‘não’ de hoje pode garantir não
ter um só candidato oponente no pleito.
Edu:
Para você ver como alguns caras aqui são obtusos. Se fossem minimamente
habilidosos teriam distribuído um comunicado elegante, dizendo que as
negociações caminham normalmente, mas que não houve ainda acordo. De quebra,
poderiam elogiar os dirigentes do Barça e esclarecer que todas as partes estão
buscando a melhor solução. Nada mais básico do que isso como demonstração de
bons modos. Mas não. Quiseram jogar para a galera. Agora que segurem o rojão.
Enquanto isso, Neymar vai continuar em campo, dividido, tenso e preocupado. Que
valorização eles esperam dessa situação?
Carles:
Você está pedindo muito. Esse "saber estar" é coisa rara, o dirigente
marrudo, que peita todo aquele que se aproxima do patrimônio do clube, continua
sendo digno de admiração. Engana-se quem pensa assim de quem está se promovendo
às custas de meninos talentosos e mal orientados. No fim eles vão conseguir o
que querem, tumulto e briga de foice para aumentar uma quirelinha no troco
deles, mas a que preço para o centro de tudo isso. Para Neymar a linha entre o
sucesso e o fracasso na Europa segue sendo tênue e a cada esbravejada desses
senhores a pressão sobre ele aumenta.
Edu:
Uma estupidez coletiva monumental, porque ninguém sai ganhando. A torcida não
vai suportar um Neymar à meia força, os clubes saem ambos derrotados - o Barça
para manter seus princípios e o Santos orgulhoso e sem um tostão - e o jogador
e seu staff só terão um imenso desgaste para administrar daqui por diante. Só
mesmo se o Florentino lucrar alguma coisa, como sempre.
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