Carles:
Estivemos tão preocupados com a obsessão de Scolari e sua turma com a robustez
da linha medular que talvez tenhamos relevado um pouco a importância que possam
ter os laterais nesse time. Domingo eu vi um Marcelo mais magro, quase em forma
física e revigorado. Dani Alves ainda está devendo na Seleção, mas é um cara
positivo e poderia ser um bom momento para se reivindicar. Existe ainda a
possibilidade de aprofundar ainda mais o jogo do time com jogadores em grande
forma como Oscar e Lucas. Será que finalmente não será esse o caminho? O Brasil
só estaria cumprindo sua sina, a dos laterais.
Edu:
Mais uma vez temos o que é possível e o que é real. O possível leva em conta
que o Brasil tem hoje os melhores laterais em muitos anos, talvez desde a dupla
Cafu-Roberto Carlos, se bem que os de hoje são mais habilidosos e menos
seguros. Marcelo é um superlateral, criativo, imprevisível. Suas falhas na
marcação são, na minha visão, totalmente irrelevantes perto do resto que ele
propõe ao time. E Dani precisa de algumas correções, tem errado passes por
ansiedade e não consegue se livrar de algumas repetições que funcionam no Barça
mas não na Seleção. O real, porém, é que não há nada montado para eles no
ataque, só um excesso de cuidados defensivos, refletido pelos gritos histéricos
de 'volta!' que o Felipão dá a todo instante. Aí, o potencial dos dois vem
abaixo.
Carles:
Sempre resisti a reconhecer a importância de Marcelo, mas estou inclinado a
pensar que o jogo dele pode ser o único capaz de quebrar a rotina de um modelo
repetitivo. Não acho as deficiências defensivas dele irrelevantes, mas sim que
as suas possibilidades ofensivas compensam o que não deveria ser um problema
para um esquema com o clássico volante de cobertura. Assim mesmo, os dois também
estão entre os danificados pela desgastante temporada espanhola. Seus times
fizeram o desfavor de devolvê-los não no melhor de suas formas. Um por excesso
de jogos, o outro por falta. Assim mesmo, insisto, os movimentos de Marcelo são
sempre inesperados e ele acaba fazendo uma função no ataque que nenhum outro
jogador do plantel faz. Nem ponta, nem meia, rapidez com a bola nos pés e nas
combinações.
Edu:
Mesmo sem estar totalmente 'fino', Marcelo parece hoje o cara mais imprevisível
da Seleção, na falta do melhor Neymar. Ali por aquele lado podem surgir algumas
novidades, sempre que deixem que ele se espalhe um pouco, o que não é muito o
perfil do time. Mas Marcelo é um tanto insubordinado, não consegue se segurar -
é de longe sua maior virtude, a ousadia. Se Paulinho tivesse um pouco dessa
rebeldia, teríamos duas boas surpresas chegando ao ataque.
Carles:
É o que eu queria dizer, a insubordinação é a maior virtude e, segundo a
perspectiva, seu maior defeito. Mesmo assim, ainda é incerta a titularidade de
Marcelo, pelo que entendi. Parreira é partidário da maior rigidez e disciplina
tática de um Filipe Luiz que não é nem sombra daquele jogador que foi no Depor
até sofrer uma séria fratura. É isso, Filipe é o favorito de Parreira? Memórias
da caserna ou “melhor não arriscar escalando dois laterais ofensivos.” Porque,
estando bem ou mal, segurar o Dani lá trás também vai ser missão impossível.
Edu:
Não sei te dizer se o Parreira é o maior advogado de defesa do Filipe Luiz, ou
se é o próprio Felipão - e não é por cautela, é medo mesmo, é estilo de ser,
estilo de jogo. O certo é que Dani e Marcelo são uma imposição do futebol
brasileiro - da torcida, da mídia, dos colegas jogadores. Se não acontecer uma
desgraça pelas laterais não há como mexer neles sem arcar com uma reação irada
de todos os lados. Ainda mais num time que tem tão poucas opções de
criatividade. Quanto ao Dani, que é melhor marcador que o Marcelo, acho que
ainda falta um pouco mais de autocontrole do meio para a frente. Já que ele não
é um cara de linha fundo - como você já ressaltou aqui - precisa dosar essas
diagonais para não sair trombando com Oscar e Hulk, como já aconteceu nos
amistosos.
Carles:
A verdade é que Dani foi o jogador mais prejudicado pelo jogo do Barça, que foi,
pouco a pouco, restringindo o seu repertório. Se recordarmos, no Sevilla andou
jogando bem de ala e até de meia direita clássico. Ele fez boas temporadas no
Barça, mas foi ficando cada vez mais limitado. Tudo piorou para ele quando
Messi abandonou sua posição na beirada do campo. Antes disso, pudemos ver uma
ala direita das mais poderosas já vistas. E como você diz, o ‘descondicionamento’
desses movimentos tão mecanizados leva o seu tempo. Quem sabe para a Copa e com
ele jogando no Mônaco ou no PSG a seu bel prazer?
Edu:
De qualquer jeito, pelos lados do campo correm dois caras que inspiram
confiança no torcedor e têm grande respeito dos adversários. Não duvido que
ambos tenham marcação especial contra qualquer adversário.
Carles:
Vidas paralelas nas laterais… o Brasil com Barça-Madrid, a Espanha com
Madrid-Barça. Só que nós ainda temos a esperança de não ver Don Alvarito na
direita da "Roja".
Edu:
Sinto que o Marquês vai testar Azpilicueta. Já veremos.
Carles: Com a bênção de Casillas. Dos males o menor.
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