O MODELO IDEAL (2)
Carles: Ainda com relação à questão que discutíamos
ontem sobre a melhor fórmula para a gestão de um clube esportivo, acho que
estamos de acordo em que a solução seria um modelo que respeitasse a realidade
e o perfil social-cultural local, mas que principalmente sobrevivesse à
alternância das políticas do poder. Pode me chamar de pessimista, mas me parece
uma enorme quimera, diante da convicção cada vez mais alastrada de que o clube
é uma marca e não um patrimônio cultural com compromissos sociais com a
comunidade. Você não acha que perdido esse vínculo já não existe nada que possa
fazer perdurar um projeto que busque equilibrar as contas e o desenvolvimento
esportivo?
Edu: Vou insistir no problema dos recursos humanos –
acima do sistema - para concordar quase 100% com você. Enquanto existir tanta
gente despreparada e oportunista nesse meio que não tem nada de transparente,
não haverá o tal equilíbrio, quando mais algo duradouro. O dirigente padrão, supostamente
profissional, como de resto grande parte do empresariado tradicional, não tem
preocupação com vínculos, não tem,
aliás, nenhuma intenção de tratar o bem que está em suas mãos - o futebol -
como um bem social. É um princípio solenemente ignorado, salvo as exceções de
sempre. É preciso cuidar das contas, ok. Mas há outras três variáveis, digamos,
obrigatórias no sistema: a convivência civilizada com o regulamento, ou seja,
as leis do jogo e das instituições; a manutenção de valores lúdicos sem os quais
qualquer jogo perde a função básica; e, por fim, uma vertente de ética social
que não está formalizada na legislação mas que é o pilar central de tudo, a
cidadania. Não haverá equilíbrio se a gestão do futebol ignorar essas três
variáveis humanas para priorizar o caixa. Acho até que certos dirigentes entram
pensando em buscar o equilíbrio, mas logo são engolidos pela engrenagem. Aí,
vira um círculo vicioso cruel que começa sacrificando justamente a molecada que
precisa desses valores.
Leia o resto
desta publicação em
Nenhum comentário:
Postar um comentário