OS 32 DA COPA (27) – GRUPO B
Carles: Em um filme
dirigido pelo chileno Andrés Wood, "Historias de
Fútbol", de 1997, Pancho, um fanático torcedor de La Roja (segundo os chilenos, a verdadeira) está retido na ilha de
Chiloé justo no dia em que a sua seleção enfrenta os poderosos alemães na Copa
do Mundo. Só existe um aparelho no local e conseguir o sinal de televisão é puro
milagre. Além do mais o aparelho é de duas irmãs solteironas que em troca
pretendem um jogo muito mais íntimo com o rapaz, desesperado por ver o jogo. Na
cena final, os habitantes do vilarejo em meio a uma tempestade, conseguem ver
fragmentos da partida, em que Rummenigge celebra um gol por baixo do corpo de Mario Osbén, então
goleiro do ColoColo, time de Panchito. A sequência final alterna a tentativa de
sedução de uma das irmãs com as estocadas da seleção chilena. O desfecho é até
previsível com coincidências de ambos clímax. Um golaço de Gustavo Moscoso que
inclui uma bola no meio das canetas de um adversário desencadeia uma das famosas
narrações épicas e nacionalistas do continente, sobretudo naqueles tempos. No
filme, o narrador, inflamado, chega a dizer que o Chile ganha o jogo e segue à
frente no torneio, quando na verdade no enredo do filme corresponderia ao
empate e na realidade, foi o gol de honra na derrota por 4 a 1 na Copa de 1982.
Mais uma farsa com valor simbólico de tempos em que a especialidade era vender
ilusão entre os massacrados pelos caudilhos latino-americanos?
Edu: O Chile é uma das
nações com maior consciência cidadã da América Latina, tem uma sina de estar
sempre batalhando pela própria felicidade, independente do que aconteça nos vizinhos
do Cone Sul, ou mais ricos ou mais democráticos, dependendo da etapa histórica.
Não importa, os chilenos têm uma lucidez plena de seu papel social e mesmo
quando os mefistos estiveram no poder - em especial o maior de todos - nunca
esmoreceram. No futebol, a sina é correr atrás de argentinos, brasileiros e
uruguaios, uma luta insana para estar na ribalta da América do Sul. Mas em
matéria de beleza natural, tradição e riqueza histórica, gastronômica e
cultural não devem nada a ninguém, bem ao contrário.
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